terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tenofovir 2.0

O Tenofovir (Viread), um dos antiretrovirais (ARVs) mais amplamente prescritos e o alicerce da terapia em HIV de primeira linha está ganhando um novo aprimoramento. No dia 6 de Novembro, a Gilead Sciences, que fabrica o medicamento, solicitou a Administração de Alimentos e Medicamentos Americana (FDA, em inglês) a aprovação de um regime de pílula única com os mesmos componentes do Stribild (elvitegravir/cobicistat/tenofovir/emtricitabina) somente com uma versão modificada do tenofovir. O tenofovir melhorado oferece vários benefícios sobre a tradicional tomada do inibidor de transcriptase reversa do nucleosídeo (NRTI, em inglês) e parece pronto para fazer vários regimes já altamente tolerados ainda mais tolerados.
O Tenofovir disoproxil fumarate, abreviado como TDF, é o nome completo genérico da forma atual do medicamento. O TDF é um componente de três dos quatro tabletes de combinação ARV de pílula única diária no mercado hoje: Atripla (efavirenz/tenofovir/emtricitabina), Complera (rilpivirina/tenofovir/emtricitabina) e Strilbid. Além disso, o TDF compõe metade do Truvada (tenofovir/emtricitabina) que além de seu uso aprovado como tratamento para o HIV está aprovado como profilaxia pré-exposição (PrEP) ao prevenir a aquisição do vírus entre pessoas HIV-negativo bem como para tratar o vírus da Hepatite B (HBV).
O tenofovir é vital ao panorama de tratamento do HIV. De acordo com a Gilead, aproximadamente 84 por cento dos americanos HIV-positivo que estão em tratamento usam um regime ARV contendo TDF. E entre aqueles que estão usando o regime ARV pela primeira vez, a 88 por cento deles é prescrito um regime inclusivo de TDF. 
A versão 2.0 do medicamento é conhecida como tenofovir alafenamida fumarate ou TAF. Tanto o TDF quanto a TAF são pró-medicamentos o que significa que eles são convertidos à sua forma ativa dentro do corpo. Mas enquanto o TDF é convertido fora das células imunitárias, o TAF é convertido dentro delas. Portanto, na realidade, o TAF mira melhor aquelas células; conseqüentemente há muito menos resíduos do medicamento na corrente sangüínea para causar toxicidades. Por causa desta mira concentrada, a dose necessária de TAF é apenas 10% da do TDF, liver, Macrophagemelhorando o perfil de toxicidade do TAF e fazendo o medicamento mais fácil de combinar em regimes de combo de pílula única já que seu volume está diminuído. A dose pode ser diminuída ainda mais quando o TAF é combinado com o agente impulsionador Tybost (cobicistat) que como o Norvir (ritonavir) aumenta os níveis de certos ARVs no corpo.
 No pedido da Gilead à FDA para aprovação do TAF – contendo a tomada do Strilbid (que, se aprovado, receberia um novo nome, enquanto o Stribild antigo permaneceria no mercado) a companhia submeteu dados de 48 semanas dos dois estudos da Fase III, no qual o tablete de combinação contendo o TAF provou ser tão eficaz quanto o TDF contendo Stribild quando dado a pessoas com HIV que nunca receberam nenhum tipo de tratamento. Em notícias promissoras, o novo tablete alardeava rins com melhor aspecto e ossos mais fortes.
 Uma pesquisa recente em outro regime de pílula única, contendo o TAF junto com Tybost – os impulsores Prezista (darunavir) e Emtriva (emtricitabina) também descobriu que o tablete é menos tóxico do que um regime multi-pílula comparável que inclui o TDF enquanto alardeava a mesma eficácia.
 As pessoas que tomam TDF estão em risco de toxicidade renal de leve a moderada. Conseqüentemente, as orientações recentemente atualizadas no tratamento da Associação Médica ao HIV recomenda que aqueles com função renal reduzida não devam seguir os regimes contendo TDF. Além do mais, a maioria das pessoas tomando a versão antiga do tenofovir irão experimentar de 1 a 2% de queda na densidade mineral óssea. Entretanto, na maioria dos casos, esta queda não resultará a um resultado clinicamente significante tais como fraturas. Então, de modo geral, o TDF é um medicamento de baixo risco o que é uma razão primária do porque é amplamente prescrito.
 “O TAF é emocionante porque irá reduzir até mesmo estes riscos,” diz Tony Mills, Médico, um especialista em HIV em West Hollywood. Ele ressalta que tal melhoria no perfil de toxicidade pode re-assegurar clínicos gerais que são geralmente cautelosos ao prescrever medicamentos que eles crêem que estão relacionados a agentes quimioterápicos.
 O porta-voz da Gilead, Ryan McKeel, ressalta que uma melhora no perfil de toxicidade do TAF é particularmente atraente para uma população de HIV que está envelhecendo. Afinal de contas, envelhecer significa um risco maior de densidade mineral óssea menor e enfraquecimento renal.
 O TAF também pode oferecer benefícios no fronte de resistência ao medicamento. Pesquisas em andamento sugerem que pessoas as quais o vírus tem alguma resistência ao TDF podem ter sucesso com o TAF. Isto é uma boa notícia considerando quão fortemente dependente a população com HIV é do tenofovir. Além do mais, se as pessoas tomando Truvada como PrEP contraírem o HIV e então desenvolver resistência ao tenofovir, tratá-los com um regime contendo TAF pode provar a eficácia – assim acalmando (se potencialmente dissipada) preocupação sobre o PrEP. Entretanto, TIM Horn, diretor de projetos em HIV no Grupo de Ação ao Tratamento especula que os benefícios da aparente resistência ao medicamento tem um limite e que o medicamento pode não ser uma opção viável para aqueles com resistência extensa ao NRTI.
Os que provavelmente não estão muito felizes sobre ver o TAF integrado ao arsenal de combate ao HIV são aqueles que pagam as contas. O TDF está marcado para perder sua patente em 2018, abrindo a porta para a produção de genéricos e uma provável queda no custo para os novos competidores. Mas a Gilead espera que a patente do TAF deva ser executada até 2025. Por conta das nuances nas leis de patentes de medicamentos, a Gilead pode usar o TAF como uma ferramenta para manter o recebimento de lucros do portfólio de medicamentos para o HIV da companhia, que está em processo de amadurecimento; adicionando o TAF a terapias de combinação de dose fixa que incluem ARVs com pacientes que estão falecendo e irão estender a patente para todas as combinações de pílula. A nova versão do Stribild provavelmente ficará na patente até 2029. Em outro movimento habilidoso, a Gilead não está desenvolvendo o TAF como um medicamento único, o que exclui a possibilidade de vir a juntar equivalentes genéricos de pílulas de combinação inclusivas do TAF.
 De acordo com Horn, não é segredo que a Gilead sabia sobre a tecnologia do TAF desde o começo do século 21.
 “Porque a Gilead decidiu manter segredo sobre isto até agora, em termos de seu desenvolvimento clínico – estão razões são certamente misteriosas”, Horn diz ironicamente. “Que esta tecnologia não parece estar fazendo a luz do dia até que o TDF esteja no crepúsculo de sua proteção de patente muito provavelmente não é uma coincidência”.
 Em outras palavras, parece certo que a Gilead escondesse o TAF até que a hora fosse apropriada para lutar com a concorrência dos genéricos e proteger os lucros nos anos que estão por vir.


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