segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Depoimento: descobri ser positivo e os medicos me deram 6 meses de vida

BRASÍLIA. O ad­mi­nis­tra­dor de em­pre­sas Ger­son re­ce­beu, em 1986, aos 27 anos, a notícia de que es­ta­va com AIDS e que te­ria seis me­ses de vi­da. Ven­deu to­dos os seus bens em Por­to Ale­gre (RS) pa­ra, de­pois des­se di­agnósti­co, dar ao vol­ta ao mun­do an­tes de mor­rer. Ho­je, aos 50 anos, Ger­son está saudável e vi­vo pa­ra con­tar a história de um dos pou­cos por­ta­do­res do vírus HIV da­que­la épo­ca que so­bre­vi­ve­ram à do­ença.
O ad­mi­nis­tra­dor é um dos ven­ce­do­res do con­cur­so "Vi­das em crôni­ca", do Pro­gra­ma de AIDS, do Mi­nistério da Saúde, que se­le­ci­o­nou re­la­tos de quem vi­ve ou par­ti­ci­pa da vi­da de por­ta­do­res do vírus e con­vi­ve com es­sa epi­de­mia. São históri­as am­bi­en­ta­das nas déca­das de 80, 90 e nos anos 2000 que traçam uma evo­lução da do­ença no país, os avanços no tra­ta­men­to, com a che­ga­da do co­que­tel de an­tir­re­tro­vi­rais, e o au­men­to da so­bre­vi­da de quem tem AIDS.
Ger­son che­gou a se apo­sen­tar por in­va­li­dez. De­pois, vi­rou um ati­vis­ta da cau­sa e con­ta co­mo vi­veu aque­les di­as: – Não tínha­mos es­pe­rança.
O re­sul­ta­do po­si­ti­vo era de­cla­ração e con­de­nação de mor­te.
A per­gun­ta era: quan­to tem­po eu te­nho? Na crôni­ca vi­to­ri­o­sa, ele es­cre­veu: "Ca­da vez que ou­via os da­dos da epi­de­mia pen­sa­va: em qual des­ses núme­ros fui clas­si­fi­ca­do? Em qual gru­po de ris­co fui jo­ga­do? Eu me trans­for­mei num da­do epi­de­mi­ológi­co".
Por­ta­do­ra do vírus, a pe­da­go­ga Ma­ria (no­me fictício) foi uma das ven­ce­do­ras na ca­te­go­ria déca­da de 90. Ela tem 48 anos e con­traiu o vírus em 1992, de­pois de uma re­lação se­xu­al sem PRE­SER­VA­TI­VO: – Fi­quei mui­to do­en­te e es­ti­ve três ve­zes in­ter­na­da à bei­ra da mor­te. Era uma questão de quan­do ia mor­rer.
A pe­da­go­ga or­gu­lha-se de ter si­do a pri­mei­ra víti­ma da AIDS a con­se­guir na Jus­tiça, em 96, o di­rei­to de ter aces­so a me­di­ca­men­tos, to­dos im­por­ta­dos. Ho­je, re­cla­ma dos efei­tos co­la­te­rais dos an­tir­re­tro­vi­rais.
- Os remédi­os ata­cam feio nas mu­lhe­res. Dei­xam a gen­te com as­pec­to feio, ros­to e per­na fi­na e bar­ri­ga e sei­os enor­mes.
Ali­ce Belém de Oli­vei­ra é en­fer­mei­ra e tra­ba­lha com por­ta­do­res do HIV no Rio. Sua história está en­tre as pre­mi­a­das. Ela con­tou o dra­ma da pri­mei­ra mor­te de uma cri­ança com AIDS que tes­te­mu­nhou, em 1987. "Sen­tei-me ao la­do da­que­le lei­to e, se­gu­ran­do na­que­las mãos já fri­as e páli­das, orei e pe­di a Deus que per­mi­tis­se que cri­anças-an­jos vi­ves­sem nes­te mun­do. Cho­rei um cho­ro que es­ta­va re­pri­mi­do há anos des­de que per­di o meu pri­mei­ro pa­ci­en­te de AIDS. Du­as déca­das se pas­sa­ram. Per­di al­guns pa­ci­en­tes pa­ra a AIDS, mas mui­tos con­se­gui­mos re­cu­pe­rar. Com avanço tec­nológi­co, a qua­li­da­de de vi­da me­lho­rou".
Ano de 87; qua­se to­das as noi­tes perdíamos pa­ci­en­tes pa­ra a AIDS, a mai­o­ria com pou­cos di­as de in­ter­nação, al­guns até em 24 ho­ras. Era de­vas­ta­do­ra a si­tuação. O pi­or era o es­tig­ma que as pes­so­as ti­nham em re­lação aos so­ro­po­si­ti­vos"
Ali­ce Belém, en­fer­mei­ra que tra­ba­lha com pa­ci­en­tes com HIV
Pas­sa­ram-se 23 anos des­de meu pri­mei­ro exa­me de HIV. As no­vas ge­rações de me­di­ca­men­tos vêm ocu­pan­do as es­tan­tes do meu armário. Nun­ca ima­gi­nei que che­ga­ria tão lon­ge, a pon­to de ver mi­nhas fi­lhas ca­san­do, meus ne­tos cru­zan­do pe­la sa­la. Pa­re­ce que tu­do está cer­to, cum­prin­do seu des­ti­no.

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