quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Maior expectativa de vida para as pessoas vivendo com HIV, onde o tratamento se distribuído de forma equitativa e universal

Estudos grandes, primeiramente na Europa Ocidental, EUA e Austrália, mostraram que a potente combinação da terapia antirretroviral (comumente chamada de ARV ou TARV) trouxe uma enorme melhora na saúde das pessoas soropositivas. No Canadá e em outros países de renda alta, as infecções relacionadas com a aids são incomuns em pessoas com HIV que estão sob cuidados de antirretrovirais. Como resultado, os pesquisadores esperam, cada vez mais, que um jovem adulto infectado pelo HIV e que começa o tratamento logo após a infecção, faz seu tratamento todos os dias exatamente como recomendado pelo médico e não possui problemas de saúde coexistentes não tratados — como dependência química, depressão, esquizofrenia ou coinfecção com o vírus da hepatite C — possa viver por várias décadas.

Até recentemente a análise de expectativa de vida para um grande número de pessoas que vivem com HIV no Canadá e nos EUA não estava disponível. Agora, um consórcio de pesquisadores de todo o continente reuniu estes dados. Os pesquisadores descobriram que, em geral, a expectativa de vida para os portadores do HIV aumentou ao longo da última década e está se aproximando de pessoas soronegativas. No entanto, nem todos os grupos principais afetados pelo HIV experimentam o mesmo grau de expectativa de vida. Neste boletim, vamos explicar quais grupos são afetados e oferecer possíveis razões para as diferenças observadas.

Detalhes do Estudo

Pesquisadores de toda a América do Norte analisaram a base de dados NA-ACCORD a respeito de 22.937 participantes que iniciaram a terapia antirretroviral entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2007.

O perfil médio dos participantes é o seguinte:

77% homens, 23%mulheres
Os participantes tinham as seguintes idades:

20 a 34 anos: 25%
35 a 44 anos: 42%
45 a 54 anos: 25%
55 anos ou mais: 8%
Rota de infecção:

usuários de drogas intravenosas: 20%
homens que fazem sexo com homens (HSH): 39%
outras, rotas não especificadas de transmissão: 41%
Raça/etnia:

Caucasianos: 38%
Outros: 62%
Contagem de CD4+ quando a terapia antirretroviral foi iniciada:

inferior à 350 células: 72%
350 células ou mais: 28%
Resultados Globais

Um total de 1.622 pessoas morreram durante o estudo. Detalhes sobre a causa da morte não foram fornecidos.

Em geral, a frequência das mortes é maior nos grupos de pessoas com as seguintes características:

histórico de uso de drogas injetáveis
não-caucasianos
pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral com contagem de CD4+ em 350 ou inferior
Os Números da Expectativa de Vida

Baseado na análise dos dados, o time de pesquisadores previu que a média de expectativa de vida de um indivíduo americano ou canadense de 20 anos de idade que começa a tomar antirretrovirais logo após a infecção deve ser de aproximadamente 70 anos de idade. Entretanto, este é apenas um número médio. Alguns grupos terão expectativas de vida menores. Abaixo, seguem as expectativas de vida de um indivíduo de 20 anos de idade nos diferentes grupos em 2009, comparando-as com soronegativos. Ao final dos números, fornecemos explicações para estes resultados.

Homens soronegativos no Canadá: 80 anos
Homens soronegativos nos EUA: 77 anos
[Homens soronegativos no Brasil: 71 anos]
Mulheres soronegativas no Canadá: 84 anos
Mulheres soronegativas nos EUA: 82 anos
[Mulheres soronegativas no Brasil: 78 anos]
Sexo:

Homens soropositivos: 62 anos
Mulheres soropositivas: 64 anos
Rota de infecção:

Usuários de drogas intravenosas: 49 anos
HSH: 77 anos
Outros grupos: 70 anos
Raça/etnia:

Caucasianos: 72 anos
Outros: 58 anos
Contagem de CD4+ quanto a terapia antirretroviral foi iniciada:

Inferior à 350 células: 59 anos
350 células ou mais: 75 anos
Estes dados devem ser comparados à época em que a terapia antirretroviral começou a ser oferecida, quando, em média, soropositivos de países de renda alta viviam 10 a 12 anos após o diagnóstico.

Explicação para as Lacunas

Mulheres

A expectativa de vida global das mulheres soropositivas neste estudo mostrou-se inferior a de HSH e de mulheres soronegativas. Os pesquisadores sugeriram algumas possibilidades para essa descoberta. É possível que “mulheres estejam iniciando o tratamento depois que [alguns] homens.” O estudo incluiu um número grande de mulheres com histórico de uso de drogas intravenosas. Em geral, pessoas que usam drogas injetáveis apresentam a pior expectativa de vida do que os não usuários, independentemente da condição sorológica para o HIV. É possível que as mulheres deste estudo tiveram menor acesso à educação, menor renda, podem ter experimentando maior estigma e isolamento social do que HSH soropositivos, além de maior dificuldade com o sistema de saúde [o que não acontece no Brasil, onde o acesso aos medicamentos é universal e gratuito].

Não é mencionado pelo estudo os diversos papéis muitas vezes desempenhados pelas mulheres, incluindo cuidado de crianças, outros membros da família e do ambiente doméstico, além de trabalho remunerado. Em virtude disso, as mulheres muitas vezes são obrigadas a priorizar o cuidado de outros em detrimento de si mesmas. Todos esses fatores podem ter impacto global na saúde e na expectativa de vida mostrada por este estudo.

Usuários de drogas injetáveis

Os pesquisadores sugeriram que os seguintes fatores influenciaram na baixa expectativa de vida dos usuários de drogas injetáveis neste estudo:

coinfecções, tais como com hepatite C (HCV)
dificuldade em manter a adesão ao tratamento
efeito desestabilizante do uso de drogas
ambiente doméstico instável
baixa renda
Raça/Etnia

O time de pesquisadores concluiu que as diferenças na expectativa de vida de pessoas não-caucasianas refletem inúmeros fatores, tais como “condições socioeconômicas e acesso a serviços de saúde.” Os pesquisadores descobriram que no começo do estudo a lacuna entre as expectativa de vida era enorme — de 23 anos. Entretanto, ao final do período de pesquisa essa lacuna foi reduzida para 9 anos.

Contagem de CD4+ no início do tratamento

As pesquisas do presente estudo reforçam as recomendações atuais no Canadá e nos EUA [e também no Brasil] de que soropositivos devem iniciar o tratamento o mais cedo possível, independentemente de sua contagem de CD4+.

Pontos Fracos e Pontos Fortes

É possível que os pesquisadores tenham subestimado os avanços recentes e futuros em tecnologia, medicina e tratamento, os quais podem estender ainda mais a expectativa de vida daqueles que estão vivendo com HIV.

Também é possível que, no futuro, soropositivos desenvolvam problemas de saúde relacionados à idade mais rapidamente do que soronegativos. Isso pode reduzir ou estagnar a expectativa de vida.

Os pesquisadores não foram capazes de acompanhar todos os participantes, pessoas vivendo com HIV, de 20 anos de idade até os seus 70. Esta é uma limitação razoável, uma vez que a terapia antirretroviral só se tornou disponível em 1996 na maioria dos países de renda alta. Entretanto, outras bases de dados têm monitorado a saúde de soropositivos que começaram o tratamento em 1996 (apenas quatro anos antes do início do presente estudo) e encontraram tendências similares à presente análise dos dados da NA-ACCORD. Os pesquisadores do presente estudo usaram metodologia similar àquela usada para estimar a média de expectativa de vida de soronegativos. Portanto, as descobertas deste estudo são razoáveis e baseadas nas tendências atuais.

Os Benefícios do Cuidado Constante

Tenha em mente que, comparado a soronegativos, muitos soropositivos no Canadá e em países similares estão sob ótimas condições de tratamento médico. Eles visitam infectologistas diversas vezes ao ano. Com este grau de vigilância médica é possível detectar qualquer complicação no início, antes que se torne grave, o que é mais um fator que pode ajudar a prolongar a expectativa de vida de pessoas que estão  vivendo com HIV.

Referência

Samji H, Cescon A, Hogg RS, et al. Closing the Gap: Increases in life expectancy among treated HIV-positive individuals in the United States and Canada. PLoS One. 2013 Dezembro 18;8(12):e81355.

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