sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Prevenção ainda barra em tabus

Um grupo de adolescentes da Escola Estadual Professor José Carlos Pinotti, na Zona Norte de Londrina, descobriu que HIV e aids são palavras com um significado que extrapola eventuais notícias de jornais. Graças ao programa "Saber para Reagir", uma iniciativa da Associação Londrinense Interdisciplinar de Aids (Alia) em parceria com a Johnson & Johnson, eles participaram, durante todo o ano, de oficinas sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), aids, diversidade e relações de gênero.

Vanessa Santos, 17, Gustavo Cruz, 17, Mateus Silva, 16, Victória Correia, 15, Persia Lara, 15, e Emily Nathaly Rodrigues, 16, são alguns dos alunos que integraram as oficinas. Os relatos sinceros dos jovens demonstram que a prevenção da AIDS só será eficiente quando o assunto for tratado sem todos os tabus que envolvem a sexualidade desta faixa etária.

Apesar de já namorarem, alguns dos jovens jamais tinham visto um preservativo. Também contaram que, antes do projeto, sabiam que o vírus HIV existia, mas não faziam ideia que o risco era tão próximo. "Sinceramente, eu não sabia direito o que era aids. Fiquei sabendo através do projeto da Alia", contou Gustavo, que mesmo tendo acesso às informações confessa ser capaz de, na empolgação, ter relações sexuais sem preservativo. "Se eu fosse ficar pensando em todas as doenças, não fazia nada", justifica ele, que também não teme uma possível gravidez das parceiras. "Se ela engravidar, a gente cuida", simplifica.

Mais conscientes, até porque também temem a gravidez, algumas meninas denunciaram que os próprios serviços de saúde são pouco acolhedores em relação à sexualidade dos adolescentes. "Já fomos ao posto de saúde pedir preservativo e os atendentes ficaram bravos, disseram que não temos idade para ‘isso’", reclamam, reforçando que o tabu em torno de assunto é mais perigoso que a simples falta de informação. "Se nos sentimos julgadas, não vamos mais pedir", concluem elas, que nunca mais voltaram à unidade de saúde com o objetivo de se proteger.

Os adolescentes que têm abertura para falar de sexo com os pais demonstram ser mais conscientes. "Minha mãe fica do meu lado e me explica sobre doenças e o risco de gravidez. Percebo que muitos pais viram as costas para as filhas e são essas meninas que acabam caindo na conversa dos caras mal intencionados", diz Emily. Victória conta que a mãe encontrou uma boa estratégia para comunicar à filha que está disposta a falar sobre sexo. "Ela coloca panfletos orientativos na minha bolsa", diz.

Paulo Wesley Faccio, educador social da Alia, explica que os adolescentes costumam ter comportamentos de alto risco porque ainda não compreendem que são vulneráveis às doenças. "Eles agem de acordo com o ‘embalo do momento’", afirma, acrescentando que as baladas movidas a bebidas alcoólicas aumentam a vulnerabilidade dos meninos e meninas. "Apesar da venda ser proibida, eles conseguem com muita facilidade", lamenta.

O educador destaca que os adolescentes ainda não são maduros para negociar o uso da camisinha. "Acham que, se propuserem a proteção, o outro vai achar que tem algo errado. Este comportamento explica também a vulnerabilidade de grupos como idosos e mulheres casadas", diz.

A escola, para ele, e o ambiente ideal para discutir sexualidade e prevenção de HIV e aids. "A equipe da José Carlos Pinotti foi muito corajosa", elogia.

A pedagoga Vera Lúcia Bueno, coordenadora do projeto na escola, e a diretora Evelice Bueno destacam que a introdução do tema na rotina dos estudantes demandou mudança de paradigmas entre os educadores. "Enquanto estávamos trabalhando a sexualidade de um jeito antigo, explicando sobre anatomia, nos deparamos com a realidade de ter um aluno HIV positivo", exemplificam. O projeto da Alia deu subsídios para a equipe envolvida conseguir tratar o tema de maneira mais próxima da realidade dos adolescentes. "Nossa expectativa, agora, é que os serviços de saúde ofereçam uma ação integrada que trate de sexualidade e diversidade através do programa ‘Saúde na Escola’", esperam.
Por: Carolina Avansini
Reportagem Local - 
http://www.folhaweb.com.br/

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